quinta-feira, 10 de agosto de 2017

O radicalismo e eu - A vantagen de ser livre


Por Marcos Garcia 

Como já disse, comecei a ouvir Metal na primeira metade dos anos 80, e em 1985, comecei a me dedicar ao estilo. Só que eu, na época, ainda não compreendia muito bem certas coisas, bem como o porquê de ser exclusivamente fã de Metal.

Basicamente, meu primeiro contato com outras fãs foi por volta de Abril ou Maio de 1985, em uma noite dedicada ao Metal no Mageense Futebol Clube. Ali, conheci um amigo que me sacaneou muito, Luiz, organizador do evento. Ele basicamente era um cara nascido em Magé, mas morava no Rio de Janeiro. Mas mesmo com todas as brincadeiras comigo, nunca deixei de considera-lo um amigo. No fundo, aquele bullying me ajudou a despertar para a minha individualidade bem cedo.

Luiz era radical, mas como soube anos depois, ele mesmo não se sentia bem com isso. Acho que, no fundo, quando acordávamos, nenhum de nós se sentia bem com o radicalismo.

Mas Luiz tem um ponto importante: em uma brincadeira, quando perguntei se havia alguém em Magé que entendia o Metal como ele, me indicou Leonardo. Ele me disse onde ele morava e em um domingo qualquer do mês de Outubro ou Novembro, lá fui eu à casa de Léo.

Estranho que eu e Leonardo nos conhecíamos de alguns anos, mas éramos, basicamente, antagônicos. Não nos dávamos bem. Coisa de dois pré-adolescentes...

Óbvio que ele não ficou feliz em me ver no portão da casa dele, mas mesmo assim, me recebeu, e passamos a tarde ouvindo música. Óbvio que Leonardo também era radical, mas ele teve paciência comigo. Óbvio que minha fama de doido em Magé não ajudava, mas ele transcendeu isso.

Mal sabíamos nós dois (acho que nem Luiz imaginaria isso) que ali nascia uma amizade que dura até os dias de hoje. Posso falar com toda segurança do mundo que Leonardo é um irmão que eu tenho fora de casa, e por termos basicamente a mesma idade, conversávamos sobre tudo amadurecemos juntos. Só tivemos um afastamento que começou no final de 87, quando Léo começou a se dedicar à banda de Rock dele (o finado Goox, que fazia um estilo bem legal, uma mistura de Rock com uma pegada bem acessível). De resto, nunca arrume problemas com ele, senão me terá como inimigo.

Risos, lágrimas, e sobre tudo conversávamos um com o outro.

Voltando ao final de 1985, graças a Léo eu tive mais informações, e fui crescendo em termos de conhecimento e underground, e fui conhecendo mais e mais bandas que a mídia não mostrava. Hoje, qualquer garoto consegue na internet o que quiser, mas na época, o METALLICA era apenas um nome proeminente, SLAYER, MEGADETH e ANTHRAX começavam a dar seus primeiros passos para algo maior. Foi com Leonardo que conheci o MERCYFUL FATE, que se tornou minha banda favorita. É a de Léo também, e no início, eu meio que puxei o saco, mas não havia como eu não me apaixonar pela banda. Até hoje em dia, o “Don’t Break the Oath” é meu disco favorito de todos os tempos.

"Show no Mercy", do SLAYER. Um dos primeiros discos de
bandas underground que tive. E é meu favorito da banda.
Com Leonardo, aprendi muita coisa, ele me levou no início Maio de 1986 à finada Raven, uma loja de discos localizada em Icaraí (Niterói, aqui no RJ). Lá, eu comprei o “Show No Mercy” do SLAYER (primeiro disco deles a sair aqui). Interessante que ele havia saído na quinta, e quando passei na casa de Léo, ele me mostrou e ouvi um trechinho de “Evil Has No Boundaries”, o suficiente para eu comprar o bendito. Eu já trabalhava, ganhava basicamente 10% de um salário mínimo, o que me dava grana para comprar um disco nacional novo e um usado. No mesmo dia, veio um “The Number of the Beast” usado comigo para casa, bem como foi o dia em que ouvi o “The day of Wrath” do BULLDOZER pela primeira vez (quis esse disco por anos, e só recentemente consegui a versão em CD dele, com tudo refeito).

Eu falava mal das bandas de Hard que um dia amara, não queria saber de Rock Brasil e nada disso. Eu queria saber de música rápida, cheia de energia, que fazia o sangue correr mais rápido nas veias.

Os anos de radicalismo de 1986 a 1988 cobraram um preço do cenário: muitos enjoaram do Metal por causa disso. Até hoje, sei de caras que não queriam mais nada com o Metal depois daqueles tempos. Fora isso, o Brasil de 1987 a 1994 passou por uma crise econômica e política quase que sem igual em sua história. Mas não quero saber de falar de política aqui.

Voltando a 1988, eu estava enjoado de Death e Thrash Metal. Odiei o “Terrible Certainty” do KREATOR (comprei em Abril e passei em Maio, e eu amo até hoje os dois primeiros), ouvia qualquer coisa dos estilos e me sentia de saco cheio. Foi quando retomei minhas raízes no Metal tradicional. Léo também estava de saco cheio de porradaria musical, e me mostrou os primeiros de Ozzy e os Sabbath com Dio. Novamente: discos eram caros, e como Léo tinha mais condições, tinha bem mais discos que eu. Óbvio que me re-apaixonei por “Blizzard of Ozz” (que já conhecia, mas que abandonei em favor do Metal extremo da época) e foi quando o “Mob Rules” do BLACK SABBATH entrou em minha vida para sempre. Óbvio que eu ouvia IRON MAIDEN ainda, mas precisava de mais melodias na minha vida.


"Mob Rules" e "Blizzard of Ozz", discos que reintroduziram
o Metal tradicional na minha vida.

Ainda lembro que, na mesma galeria da Raven, haviam discos usados de Metal tradicional em outras lojas, e eu comprei, de uma tacada só, “Blizzard of Ozz”, “Diary of a Madman” e “Mob Rules”. Não pude comprar o “Heaven and Hell”, que só fui ter em casa quando o LP já havia dado lugar ao CD. Eu era de lua, ou seja, comprava o que estava mais em meu interesse no momento, por isso levei tanto tempo para comprar esse bendito disco do BLACK SABBATH. Aliás, em termos de discos que compro, até hoje sou aluado.

Mas mesmo cedendo ao Metal tradicional, eu me recusava a aceitar o Glam Metal (que na época chamávamos de Hard Rock californiano, ou simplesmente, farofa comercial). Ouvia as baladas quando eu tinha 19 anos, mas nem queria chegar perto de BON JOVI e outros da turma. MOTLEY CRUE parecia uma blasfêmia afeminada aos meus ouvidos assim como RATT. POISON me era odioso, mesmo sem eu não ter ouvido nada deles na época (é, isso é para perceberem como a mente de um radical é obtusa).

A aceitação aconteceu em 1990, acho que em Setembro ou Outubro.

C.J. Snare, do FIREHOUSE, no clipe de "Don't Treat Me Bad".
Eu estava numa depressão amorosa infernal, pois minha primeira namorada séria, com quem fiquei 7 meses certinhos (sim, pois começamos em 10/12/1989 e ela terminou comigo em 10/06/1990, dois dias antes de meu aniversário de 20 anos) e foi namorar um grande amigo meu. Eu estava mal da cabeça, mal do coração, e a saúde não estava bem (passei 6 meses tomando remédios para vermes, depois para pressão, depois para gripe, depois para o fígado, e sei lá mais o que). Em um Domingo à noite (eu não saia à noite nos fins de semana, pois era umbandista praticante desde 1987 e não queria mais saber da vida noturna), estava vendo a MTV, e em um programa apresentado pelo Thunderbird, estreou no Brasil o vídeo de “Don’t Treat Me Bad”, do FIREHOUSE (banda de quem sou fã até hoje, tenho vários discos e sou apaixonado pela música que eles fazem). Caramba, eu amei aquilo de cara, entrou no coração e não saiu mais. Foi ali que o radicalismo cedeu, e passei a ouvir Glam Metal assiduamente. Sim, eu adoro Glam Metal e suas vertentes, pois entre 1983 e 1985, eram os clipes mais exibidos no BBVídeo Clipe, um finado programa de TV que exibia vídeos. É uma das minhas raízes, e eu era, antes do radicalismo, apaixonado pelo KISS da fase Hard Rock (da fase mais clássica deles, só gosto mesmo do “Destroyer”, do “Love Gun”, do “Alive II” e algumas músicas soltas), mas passei a odiar por serem considerados Glam Metal.

Enfim, deixei todo radicalismo musical para trás. Aliás, estou em uma fase que estou deixando de lado qualquer tipo de atitude fundamentalista, pois para mim, não existe radicalismo "essencial" ou "consciente". Existe radicalismo, e isso, sinceramente, eu não quero para mim, nunca mais.

"Firehouse", do FIREHOUSE. Só consegui comprar
em setembro de 1991. Sim, levou um ano para sair no Brasil!

Hoje eu ouço vários estilos musicais bem diferentes do Metal. Após o FIREHOUSE derrubar as portas, você pode encontrar discos do MOTLEY CRUE, do POISON, do NIGHTRANGER e outros aqui em casa. Aliás, vai encontra MICHAEL JACKSON, NEIL YOUNG, MEN AT WORK e outros do Pop também, além de LADY GAGA, MADONNA e tantos outros.

Lady Gaga e METALLICA no Grammy - Gostei bastante!

Hoje em dia, para mim, embora ainda seja um Metalhead, boa música para mim não tem rótulos é aquilo que eu ouço e gosto. Óbvio que existem estilos que eu não chego perto, mas não os menciono por não querer divulgar aquilo que não gosto. Divulgo e dou força ao que gosto.

Ah, você é radical e não gostou de minhas palavras? Tudo bem, não precisa concordar comigo. Eu já concordo, logo, é mais que suficiente e estou bem assim. Agora, se cismar de encher a paciência, te desejo de presente de aniversário bermudas, camisas pólo e sapatênis, OK? 



quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Eu e o Black Sabbath - Uma paixão antiga


"On a small world, west of wonder
Somewhere, nowhere all
There's a rainbow that will shimmer
When the summer falls
If an echo darts in dancer
When it hears a certain song
Then the beast is free to wander
But never seen around

And it's the Sign of the Southern Cross
It's the Sign of the Southern Cross"

(BLACK SABBATH - "The Sign of the Southern Cross")

Por Marcos Garcia


Apesar das muitas racionalizações e teorias acadêmicas, advogo que o Heavy Metal surgiu pelas mãos da Bruxa de Birmingham o quarteto BLACK SABBATH, o qual conheci ainda em 1985.


Óbvio que já conhecia a banda de nome, mas meu primeiro contato foi em uma revista pôster da banda. Ela tinha na capa a arte de “Live Evil”, e era daquele tipo que era toda dobrada, e abrindo, tinha um pôster de Ozzy da época de “Diary of a Madman”.

Eu estava indo para escola. Havia acabado de entrar para o antigo Segundo Grau, e estudei no Colégio Estadual de Magé (que até então era uma referência aqui na cidade). Interessante que na prova de ingresso (coisa que existia na época e acredito que deveria ter continuado existindo), entre uns 500-700 candidatos, eu passei em 35 lugar, e tive direito a escolher qual curso. Entre Técnico em Contabilidade, Formação Geral e Formação de Professores, optei pelo último, já que na época eu não era chegado em Matemática (assim o primeiro foi descartado), o segundo não me daria formação específica e só me restou o terceiro (algo que me arrependi depois).


Voltando à revista, ela continha a biografia da banda (com alguns erros) até a saída de Ian Gillan, sem seguir adiante. Eu passei na banca, usei o dinheiro da merenda e comprei a revista (sobraram uns trocados, e comprei uns doces). Valeu o gasto, pois as fotos, a história do Pai do Metal estava sendo contada para mim.

É incrível pensar que criei dali uma sinergia com a banda enorme, e só fui conseguir ouvir o BLACK SABBATH quando fiz um curso de programação em Basic no segundo semestre de 1985. Passei em uma loja em Duque de Caxias (onde ia ao curso todas as sextas), e todos os discos da banda haviam sido relançados. Pedi ao cara da loja para ouvir o “Paranoid”, e justamente a faixa mais icônica do disco: “Iron Man”.

Nunca mais fui o mesmo.


Apesar de não poder comprar o disco (acreditem: meu primeiro disco deles eu fui ter quando comecei a trabalhar em 1986, e foi o “Born Again”, pelo qual sou apaixonado até hoje), o BLACK SABBATH me seduziu de tal forma que, diferente de muitos, eu não escolho uma fase. Tá, eu sou mais fã dos discos com Ronnie James Dio, que é meu vocalista favorito. Mas nunca desprezaria “Black Sabbath”, “Paranoid”, “Vol. IV”, “Sabbath Bloody Sabbath” ou o “Sabotage”. Eu tenho todos eles hoje em dia, e apesar de “Technical Ecstasy”, “Never Say Die” e “13” não me descerem, os tenho da mesma forma, em respeito pelo que o grupo representa para mim. Gosto de Ian Gillan no “Born Again” (como eu disse, é o primeiro disco da banda que eu tive), a fase de Tony Martin eu acho soberba (especialmente “Headless Cross” e “Cross Purposes”), e mesmo o disco solo de Tony, “Seventh Star” (nem adianta teimarem, pois o vejo dessa forma), é perfeito. Por isso, não entendo essas picuinhas por aí. Sinto muito, mas quem gosta de uma fase apenas é uma Diete, Ozzete ou outro que queiram. Eu sou fã do BLACK SABBATH, de cada uma das encarnações da Bruxa.


Sobre o fim da banda: eu só agradeci. Sim, agradeci, pois de um garoto de 15 anos que sofria bullying sem poder revidar (porque lembrando que nas áreas de educação, o aluno de Formação de Professores deve ser “exemplo para os outros”, e eis o motivo de eu querem mandar Paulo Freire e seus seguidores irem tomar no olho seco do centro do rabo) até o homem de 47 anos, que teve vitórias (e muitas derrotas), os hinos do BLACK SABBATH foram confortos que tive...





Por que contar estórias e memórias? E como comecei no Metal.




Por Marcos Garcia

"I used to be such a sweet, sweet thing 'til they got a hold of me
I opened doors for little old ladies, I helped the blind to see

I got no friends 'cause they read the papers
They can't be seen with me and I'm gettin' real shot down
And I'm feeling mean..." 

(ALICE COOPER - "No More Mr. Nice Guy") 


É uma pergunta que muitos fazem: por que, muitas vezes, falamos de nós mesmos, de nossas histórias de vida (sim, pois falamos de nossa jornada no mundo, logo, é com “hi” mesmo). No meu caso específico, tenho necessidade sobre falar de mim, expor coisas que vi e vivi, ouvi e li nesses 47 anos de vida, e pretendo que elas sejam todas ligadas ao Metal. Faço isso porque muito na minha vida pessoal, acho que uns 80% do que vivi, bem como as grandes conquistas e mudanças foram todas oriundas do estilo.

Vamos a uma, contar quem eu sou em poucas linhas. Vou tentar resumir bem.

Me chamo Marcos, nasci em 1970, no governo do General Médici. Como nasci em uma cidade de Magé chamado Andorinhas, que é bem pequena, tive uma infância relativamente tranquila.

Quando ouvem/leem que um saudosista fala do pouco que tínhamos, mas do muito que nos divertíamos, acreditem, é fato. Qualquer folha de papel virava um aviãozinho, qualquer pedaço de madeira era um barquinho (Andorinhas possui rios, e minha casa tinha fundos para um deles). Máscaras de papel, pedaços de pano como capas, tudo isso eram fontes de diversão comuns. Quando olho os celulares, computadores e vídeo games de hoje, fico pensando demais no tipo de futuro que as crianças terão (especialmente aquelas que ganham tudo isso para justificar a ausência dos pais).

Meus pais trabalhavam fora: o velho em uma oficina autorizada da Volkswagen em Magé, e minha mãe na fábrica de tecidos de Andorinhas. Sou de raízes bem humildes, descendente de italianos que vieram ao Brasil para trabalhar na lavoura, bem como de espanhóis (meu avô paterno, Teóphilo, nasceu em águas internacionais, na vinda da Espanha para o Brasil), logo, já sabem que sou filho de pessoas bem conservadoras. Eu mesmo fui conservador por muitos anos, mas creio que a faculdade e a pós-graduação foram mudando isso gradualmente.

Fui uma criança que teve problemas de saúde desde muito novo, os mais comuns possíveis, exceto quando tive hepatite 2 vezes, aos 7 anos. A segunda vez dessa bosta foi na semana que antecedia o carnaval de 1978, e fiquei frustrado por não poder me fantasiar. Pode-se dizer que comecei a apurar meu lado Nerd nessa época, pois parado em casa, via muita TV (que realmente exibia programas educativos, não o lixo de hoje), lia quadrinhos demais, e usava velhas revistas de colorir. Como era comum brincar nas ruas de Andorinhas à noite, quantas e quantas vezes usávamos dentaduras de vampiro e capas de tecidos bem baratos. Ao mesmo tempo, aprendi a ler vendo TV, pois a Vila Sésamo ajudou muito nisso. Foi determinante em minha vida, acreditem, pois passei a ler quadrinhos, e adorava títulos de horror. É, conheci as revistas de Drácula, Lobisomem e outros quando eu muito garoto, e adorava. Talvez isso explique como comecei no Metal, anos mais tarde.

Eu comecei a ouvir Rock na mais tenra idade.

The Beatles - Please, Please Me, outro que ouvi muito.

Via músicas de Raul Seixas e outros na TV (vi todos os filmes de Roberto Carlos em sua época de Jovem Guarda), e todos os filmes dos Beatles quando era muito, muito criança, tanto que assisti à primeira exibição de “Yellow Submarine” sem nem estar na escola ainda (comecei a estudar em 1977). Pode-se dizer que estas são as raízes do Rock em minha vida, mas não nego que vivia nas matinês de Disco Music na sede do Andorinhas Futebol Clube entre 1978 (quando já estava curado da hepatite), e adorava a música Soul americana, bem como os Sambas enredo da época, a MPB (como eu era muito criança, não entendia PATAVINAS de política, e foi melhor assim).

The Beatles - A Hard Day's Night, um dos primeiros disco de Rock que ouvi.

Por volta de 77, 78 ou 79, alguém em casa comprou uma vitrola pequena. Minhas irmãs ouviam muito Beatles, e tinham dois discos “Please, Please Me” e “A Hard Day’s Night”. Quando estava sozinho em casa (isso acontecia muito), detonava ouvindo “Tell Me Why”, “A Hard Day’s Night” e outras. Óbvio que isso me custava esporros por ligar a vitrola sozinho e pela música alta. Mas criança ouve e apanha aqui e esquece ali (o apanha nem tanto, pois marca a pessoa por uma vida).

Mudei-me para a cidade de Magé em 1980, mudei de realidade, sofria bullying, perdi interesse na escola, briguei na escola... Mas o que é anormal nisso era a distorção que a diretora da escola fazia. Fui tachado do doido, e esse estigma em Magé me persegue até hoje. Ele e o maldito apelido “Pirambóia”, que já estou pedindo encarecidamente que NUNCA USEM quando falarem comigo (eu posso nunca mais olhar na sua cara depois de deixar isso claro). Eu o odeio por razões simples, que explico:

A professora da Quarta Série, Altamira, queria ilustrar um exemplo de conjunto vazio, perguntando se existia algum peixe que vivesse fora d’água. E lá fui eu, que já lia livros de Sétima e Oitava Séries, responder o nome do bendito peixe. Nunca mais tive sossego na vida, e tenho que suportar isso até os dias de hoje. A professora não acreditou, no outro dia eu levei o livro com a informação. Como sempre, a escapadinha: “respira, não vive”. Se fosse hoje, eu teria uma penca de exemplos e uma argumentação mais sólida, mas sabem como são os professores da base daqueles tempos...

O bullying começou ali, e como eu era uma criança estressada (lembrando que meu genitor descontava o estresse nos filhos por berros e outros), respondia com violência. Óbvio que existia um complô entre os malandros desse inferno em que moro, e eles se revezavam. Eu todos os dias na direção, mas não tinha paz. Óbvio que a diretora, amiguinha de meu genitor, contava tudo para ele dizendo que eu não era “normal”. Graças aos deuses que não o sou “normal”, pois me sinto muito acima disso. Sim, me sinto superior aos “normais”, pois já que o convívio era ruim, me sobrava o isolamento, meus filmes e quadrinhos. No fundo, sou um tipo de misantropo estranho, seletivo, que odeia os humanos “normais”. Meus amigos de infância e adolescência não se encaixariam nesse padrão, apesar de conviverem bem em Magé. Aliás, o conceito de “normais” me custou uma overdose de Valium aos 12 anos, exatamente no dia 22/04/1983, uma sexta-feira chuvosa e fria. Mas isso eu falo em detalhes depois (se quiserem saber disso, óbvio).

Iron Maiden - Piece of Mind, o disco que é o marco zero de minha vida no Metal.

O Metal vai entrar na minha nesse mesmo ano, quando vi a capa de “Piece of Mind” do Iron Maiden. Eu havia ido ao mercado Rosal, próximo de minha casa, e na sessão de discos, dei de cara com aquele zumbi em camisa de força. Aquilo me marcou de tal forma que até hoje vejo os ecos. Não ouvi o disco, mas fiquei impressionado e parava sempre para olhá-lo. Vi o show do Kiss na TV, pois a Globo passou em uma tarde de sábado, fora um pessoal ter dublado a banda em um show de talentos da escola naquele ano.

Tudo bem, eu sei que é pouco, mas minha entrada foi bem gradual.

Na época, ainda ouvia Michael Jackson e músicos de Soul e Pop, tanto daqui quanto de fora, mas me tornarei fã exclusivo de Metal em janeiro de 1985. Advinhem quem foi o culpado?

Sim, eles mesmos, a Donzela de Ferro me pegou de vez, pois além do show que a Globo (de novo ela) transmitiu alguns pedaços, ainda teve um programa do BBVídeo que o Maiden disputou a melhor de 3 dias com o Menudo (a música foi aquela balada chata “If You’re Not Here” que dominou o ano de 1984). O Maiden perdeu de 2 a 1, mas ganhou mais um fã. Tanto que em Maio daquele já distante e tenebroso 1985 (numa opinião pessoal sobre minha própria vida), ganhei meu primeiro disco, "Powerslave".

"Powerslave", meu primeiro disco de Metal.

Para um primeiro texto, está de bom tamanho. Peço que perguntem, falem, se expressem, pois terei de explicar. Apenas seja educado comigo como eu procuro ser com todos.

O radicalismo e eu - A vantagen de ser livre

Por Marcos Garcia   Como já disse, comecei a ouvir Metal na primeira metade dos anos 80, e em 1985, comecei a me dedicar ao estil...