Por Marcos Garcia
Como já disse, comecei a ouvir Metal na primeira metade dos
anos 80, e em 1985, comecei a me dedicar ao estilo. Só que eu, na época, ainda
não compreendia muito bem certas coisas, bem como o porquê de ser
exclusivamente fã de Metal.
Basicamente, meu primeiro contato com outras fãs foi por
volta de Abril ou Maio de 1985, em uma noite dedicada ao Metal no Mageense
Futebol Clube. Ali, conheci um amigo que me sacaneou muito, Luiz, organizador
do evento. Ele basicamente era um cara nascido em Magé, mas morava no Rio de
Janeiro. Mas mesmo com todas as brincadeiras comigo, nunca deixei de considera-lo
um amigo. No fundo, aquele bullying me ajudou a despertar para a minha
individualidade bem cedo.
Luiz era radical, mas como soube anos depois, ele mesmo não
se sentia bem com isso. Acho que, no fundo, quando acordávamos, nenhum de nós
se sentia bem com o radicalismo.
Mas Luiz tem um ponto importante: em uma brincadeira, quando
perguntei se havia alguém em Magé que entendia o Metal como ele, me indicou
Leonardo. Ele me disse onde ele morava e em um domingo qualquer do mês de
Outubro ou Novembro, lá fui eu à casa de Léo.
Estranho que eu e Leonardo nos conhecíamos de alguns anos,
mas éramos, basicamente, antagônicos. Não nos dávamos bem. Coisa de dois
pré-adolescentes...
Óbvio que ele não ficou feliz em me ver no portão da casa
dele, mas mesmo assim, me recebeu, e passamos a tarde ouvindo música. Óbvio que
Leonardo também era radical, mas ele teve paciência comigo. Óbvio que minha
fama de doido em Magé não ajudava, mas ele transcendeu isso.
Mal sabíamos nós dois (acho que nem Luiz imaginaria isso)
que ali nascia uma amizade que dura até os dias de hoje. Posso falar com toda
segurança do mundo que Leonardo é um irmão que eu tenho fora de casa, e por
termos basicamente a mesma idade, conversávamos sobre tudo amadurecemos juntos.
Só tivemos um afastamento que começou no final de 87, quando Léo começou a se
dedicar à banda de Rock dele (o finado Goox, que fazia um estilo bem legal, uma
mistura de Rock com uma pegada bem acessível). De resto, nunca arrume problemas
com ele, senão me terá como inimigo.
Risos, lágrimas, e sobre tudo conversávamos um com o outro.
Voltando ao final de 1985, graças a Léo eu tive mais
informações, e fui crescendo em termos de conhecimento e underground, e fui
conhecendo mais e mais bandas que a mídia não mostrava. Hoje, qualquer garoto
consegue na internet o que quiser, mas na época, o METALLICA era apenas um nome
proeminente, SLAYER, MEGADETH e ANTHRAX começavam a dar seus primeiros passos
para algo maior. Foi com Leonardo que conheci o MERCYFUL FATE, que se tornou
minha banda favorita. É a de Léo também, e no início, eu meio que puxei o saco,
mas não havia como eu não me apaixonar pela banda. Até hoje em dia, o “Don’t
Break the Oath” é meu disco favorito de todos os tempos.
"Show no Mercy", do SLAYER. Um dos primeiros discos de bandas underground que tive. E é meu favorito da banda. |
Com Leonardo, aprendi muita coisa, ele me levou no início Maio
de 1986 à finada Raven, uma loja de discos localizada em Icaraí (Niterói, aqui
no RJ). Lá, eu comprei o “Show No Mercy” do SLAYER (primeiro disco deles a sair
aqui). Interessante que ele havia saído na quinta, e quando passei na casa de
Léo, ele me mostrou e ouvi um trechinho de “Evil Has No Boundaries”, o
suficiente para eu comprar o bendito. Eu já trabalhava, ganhava basicamente 10%
de um salário mínimo, o que me dava grana para comprar um disco nacional novo e
um usado. No mesmo dia, veio um “The Number of the Beast” usado comigo para
casa, bem como foi o dia em que ouvi o “The day of Wrath” do BULLDOZER pela
primeira vez (quis esse disco por anos, e só recentemente consegui a versão em
CD dele, com tudo refeito).
Eu falava mal das bandas de Hard que um dia amara, não
queria saber de Rock Brasil e nada disso. Eu queria saber de música rápida,
cheia de energia, que fazia o sangue correr mais rápido nas veias.
Os anos de radicalismo de 1986 a 1988 cobraram um preço do
cenário: muitos enjoaram do Metal por causa disso. Até hoje, sei de caras que
não queriam mais nada com o Metal depois daqueles tempos. Fora isso, o Brasil
de 1987 a 1994 passou por uma crise econômica e política quase que sem igual em
sua história. Mas não quero saber de falar de política aqui.
Voltando a 1988, eu estava enjoado de Death e Thrash Metal.
Odiei o “Terrible Certainty” do KREATOR (comprei em Abril e passei em Maio, e
eu amo até hoje os dois primeiros), ouvia qualquer coisa dos estilos e me
sentia de saco cheio. Foi quando retomei minhas raízes no Metal tradicional.
Léo também estava de saco cheio de porradaria musical, e me mostrou os
primeiros de Ozzy e os Sabbath com Dio. Novamente: discos eram caros, e como
Léo tinha mais condições, tinha bem mais discos que eu. Óbvio que me re-apaixonei
por “Blizzard of Ozz” (que já conhecia, mas que abandonei em favor do Metal
extremo da época) e foi quando o “Mob Rules” do BLACK SABBATH entrou em minha
vida para sempre. Óbvio que eu ouvia IRON MAIDEN ainda, mas precisava de mais melodias na minha vida.
"Mob Rules" e "Blizzard of Ozz", discos que reintroduziram o Metal tradicional na minha vida. |
Ainda lembro que, na mesma galeria da Raven, haviam discos
usados de Metal tradicional em outras lojas, e eu comprei, de uma tacada só, “Blizzard
of Ozz”, “Diary of a Madman” e “Mob Rules”. Não pude comprar o “Heaven and Hell”,
que só fui ter em casa quando o LP já havia dado lugar ao CD. Eu era de lua, ou
seja, comprava o que estava mais em meu interesse no momento, por isso levei
tanto tempo para comprar esse bendito disco do BLACK SABBATH. Aliás, em termos
de discos que compro, até hoje sou aluado.
Mas mesmo cedendo ao Metal tradicional, eu me recusava a
aceitar o Glam Metal (que na época chamávamos de Hard Rock californiano, ou
simplesmente, farofa comercial). Ouvia as baladas quando eu tinha 19 anos, mas
nem queria chegar perto de BON JOVI e outros da turma. MOTLEY CRUE parecia uma
blasfêmia afeminada aos meus ouvidos assim como RATT. POISON me era odioso,
mesmo sem eu não ter ouvido nada deles na época (é, isso é para perceberem como
a mente de um radical é obtusa).
A aceitação aconteceu em 1990, acho que em Setembro ou
Outubro.
C.J. Snare, do FIREHOUSE, no clipe de "Don't Treat Me Bad". |
Eu estava numa depressão amorosa infernal, pois minha
primeira namorada séria, com quem fiquei 7 meses certinhos (sim, pois começamos
em 10/12/1989 e ela terminou comigo em 10/06/1990, dois dias antes de meu
aniversário de 20 anos) e foi namorar um grande amigo meu. Eu estava mal da
cabeça, mal do coração, e a saúde não estava bem (passei 6 meses tomando
remédios para vermes, depois para pressão, depois para gripe, depois para o
fígado, e sei lá mais o que). Em um Domingo à noite (eu não saia à noite nos
fins de semana, pois era umbandista praticante desde 1987 e não queria mais
saber da vida noturna), estava vendo a MTV, e em um programa apresentado pelo
Thunderbird, estreou no Brasil o vídeo de “Don’t Treat Me Bad”, do FIREHOUSE
(banda de quem sou fã até hoje, tenho vários discos e sou apaixonado pela
música que eles fazem). Caramba, eu amei aquilo de cara, entrou no coração e
não saiu mais. Foi ali que o radicalismo cedeu, e passei a ouvir Glam Metal
assiduamente. Sim, eu adoro Glam Metal e suas vertentes, pois entre 1983 e
1985, eram os clipes mais exibidos no BBVídeo Clipe, um finado programa de TV
que exibia vídeos. É uma das minhas raízes, e eu era, antes do radicalismo,
apaixonado pelo KISS da fase Hard Rock (da fase mais clássica deles, só gosto mesmo
do “Destroyer”, do “Love Gun”, do “Alive II” e algumas músicas soltas), mas
passei a odiar por serem considerados Glam Metal.
Enfim, deixei todo radicalismo musical para trás. Aliás, estou em uma fase que estou deixando de lado qualquer tipo de atitude fundamentalista, pois para mim, não existe radicalismo "essencial" ou "consciente". Existe radicalismo, e isso, sinceramente, eu não quero para mim, nunca mais.
"Firehouse", do FIREHOUSE. Só consegui comprar em setembro de 1991. Sim, levou um ano para sair no Brasil! |
Hoje eu ouço vários estilos musicais bem diferentes do
Metal. Após o FIREHOUSE derrubar as portas, você pode encontrar discos do
MOTLEY CRUE, do POISON, do NIGHTRANGER e outros aqui em casa. Aliás, vai
encontra MICHAEL JACKSON, NEIL YOUNG, MEN AT WORK e outros do Pop também, além
de LADY GAGA, MADONNA e tantos outros.
Lady Gaga e METALLICA no Grammy - Gostei bastante! |
Hoje em dia, para mim, embora ainda seja um Metalhead, boa
música para mim não tem rótulos é aquilo que eu ouço e gosto. Óbvio que existem
estilos que eu não chego perto, mas não os menciono por não querer divulgar
aquilo que não gosto. Divulgo e dou força ao que gosto.
Ah, você é radical e não gostou de minhas palavras? Tudo
bem, não precisa concordar comigo. Eu já concordo, logo, é mais que suficiente e estou bem assim. Agora,
se cismar de encher a paciência, te desejo de presente de aniversário bermudas,
camisas pólo e sapatênis, OK?